TAXA DE JUROS, CREDIBILIDADE E POLÍTICAS ECONÔMICAS EM CHEQUE
(*)
Prof. Balian
A manutenção da taxa de
juros em patamar elevado por longo período, aliada a pesada carga tributária
tem sufocado não só a rentabilidade como o caixa das empresas brasileiras, hoje,
mais de 25% das grandes têm dificuldade em manter seus compromissos em dia, sem
falar nas médias e pequenas.
No primeiro trimestre de
2025, o número de pedidos de recuperação judicial (2.200) foi superior ao total
do ano passado (1.800) e não para de crescer.
A expectativa do
“mercado” é a de que a taxa Selic suba para 15% na reunião do COPOM – Comitê de
Política Econômica - de maio, em função da conjuntura externa, fragilidade da
situação fiscal brasileira, perspectivas inflacionárias fora da meta e
descrença na gestão como um todo da equipe atual de governo.
O cenário externo com a
política comercial do Presidente Trump levará a economia americana e a do resto
do mundo à recessão rapidamente, uma vez que o principal “cliente” que
representa um quarto do comercio mundial está em franca desaceleração econômica.
O lado positivo para o
Brasil, se é que existe, é a taxa de câmbio voltar ao patamar de R$ 5,70 por
dólar americano, aliada a perspectiva favorável ao crescimento da venda de
comodities para o mercado chines e europeu.
Em artigo publicado no
jornal Estado de São Paulo, o ex senador Jose Serra, excelente gestor público,
professor e economista, abordou com muita propriedade que “a política
econômica não pode se dar ao luxo de apenas assistir à deterioração dos
cenários interno e externo, praguejando contra o aumento da taxa de juros”.
Sugere a retomada dos
princípios propostos na reforma brasileira de 2000, que instituiu a Lei de
Responsabilidade Fiscal – (LRF), inspirados no modelo neozelandês.
O conceito de public
net worth é central na economia neozelandesa. Em vez de focar apenas nas
receitas e despesas de curto prazo, monitora a evolução de sua posição líquida
a partir da diferença entre ativos e passivos, promovendo uma visão de
sustentabilidade fiscal mais abrangente, com foco na saúde financeira de longo
prazo.
Vincula gastos com metas
para a dívida pública objetivando limitar o crescimento do endividamento em
relação a capacidade de geração de receitas internas, aliviando o rígido
combate à inflação.
Desta forma, o arcabouço
fiscal leva em conta os ciclos econômicos, pois o governo se compromete a zerar
superávits e reduzir a dívida pública em períodos de crescimento e aumentado os
gastos em períodos de recessão para atuar de forma anticíclica.
A regra de dívida pública
está prevista na nossa LRF, mas ainda não foi regulamentada e permitiria
articular uma regra de dívida ao arcabouço fiscal e daria ao país mais
flexibilidade de transparência.
Os investimentos públicos
poderiam ser retomados, o patrimônio público cresceria, a dívida pública
equacionada e não apenas os gastos correntes. Com a perspectiva mais integrada
da gestão das políticas econômicas, a taxa de juros Selic poderia ser reduzida
num horizonte de médio prazo, melhorando a rentabilidade e aliviando o caixa
das empresas.
(*) Prof. Dr. Jose Eduardo
Amato Balian
Consultor empresarial
jbalian@uol. com.br
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