HISTÓRIA, PSICOLOGIA E DE META DE INFLAÇÃO
(*) Balian
O Conselho Monetário Nacional - CMN, composto pelos Ministros da Fazenda, Planejamento e Presidente do Banco Central alterou por unanimidade o sistema de Metas de Inflação Ano calendário em vigor desde 1999, substituindo-o pelo de Meta Contínua a partir de 2026.
A boa decisão foi de manter a meta de 3% para 2026, com intervalo de tolerância de 1,5% e a obrigação do Banco Central em justificar as razões para eventuais desvios. É o mesmo valor previsto para 2024 e 2025, o que tranquilizou o mercado, porém, o fim do sistema de metas pode implicar em diferenças substanciais na condução da política monetária.
A grande vantagem do sistema vigente é o de alinhar as expectativas dos agentes econômicos, tendo como foco o período anual de janeiro a dezembro, que coincide com o regime fiscal das empresas, além de ser uma data referencial para se avaliar e aferir a estratégia empresarial para o próximo ano.
Esse balanço geral é feito não somente pelas empresas, mas também por pessoas e famílias. O fim do ano representa um período de reflexão, de ajuste de nossos anseios pessoais e profissionais, não é mesmo?
É comum em janeiro, diversos agentes econômicos realinharem preços em função da inflação do ano anterior. Se a meta anual foi atingida há uma convergência de valores para o próximo ano, que contribui para uma inflação menor, caso contrário, os percentuais dos reajustes são dispersos e tendem a subir além das expectativas de mercado.
Diversas considerações podem ser feitas ao definir metas e é preciso seguir critérios lógicos, absolutamente claros e transparentes e cuidar para que os desafios se alinhem com os objetivos pessoais e profissionais.
Para entender esses requisitos, uma meta deve ser: (i) de atingimento possível; ambiciosa, sendo necessário um esforço para alcançá-la; (ii) objetiva, explícita, de tal forma que todos envolvidos saibam exatamente o que fazer para alcançá-la; (iii) mensurável, permitindo que se monitore o avanço em torno de seu atendimento; (iv) capaz de adicionar valor a atividade; (v) e com prazo definido para sua realização.
Também no momento de elaboração dos desafios dois cuidados precisam ser tomados, um é dosar o número de metas. É comum os profissionais receberem muitas metas, inclusive algumas que não têm qualquer capacidade de interferência. Outro é equilibrar o grau de dificuldade dos objetivos de modo a que sejam distribuídas metas fáceis para alguns e difíceis para outros.
O CMN fixa a meta de inflação, que passa a ser o objetivo do Banco Central, que passará a considerar não mais o final do ano-calendário para cumpri-la, mas um período contínuo, ou seja, a meta vira permanente. Para seus defensores, a adoção da meta contínua é um aperfeiçoamento do sistema, pois a finalidade é a mesma e cabe ao Banco Central trabalhar com a política monetária para atingi-la. Estão equivocados? De forma alguma.
Uma analogia pode ser feita a obtenção de lucro por parte das empresas. Seu objetivo é o valor máximo e devem convergir forças nesse sentido continuamente. O que se coloca para refletir é que ao fixar uma meta de lucro para determinado período, tem-se um ponto focal e fica menos difícil atingi-lo, na medida em que se coordena processos para esse fim específico.
É certa a substituição do presidente do Banco Central Campos Neto ao final de seu mandato e corre-se forte risco que seu substituto cometa o mesmo erro da presidente Dilma que pressionou, o Banco Central reduziu a taxa de juros artificialmente para 2% em 2011 e mergulhou o país na forte recessão de 2014/16.
Com o fim do sistema de inflação ano-calendário, a fragilidade do arcabouço fiscal que não gera segurança que a dívida pública estará sob controle, o perigo das exceções prevalecerem sobre as regras da reforma tributária no Congresso Nacional e um presidente do Banco Central que ceda as pressões do planalto, temos todos os ingredientes para que a condução da política monetária seja equivocada e a inflação volte a subir com as consequências conhecidas por todos.
Já vimos esse filme antes. Todo cidadão estuda história do primeiro grau a graduação e mais do que entender o mundo ontem e hoje é aprender com os erros e não os cometer novamente. O problema é não a estudar.
(*) Prof. Dr. Jose Eduardo Amato Balian
Consultor empresarial
jbalian@uol.com.br
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