TIRANDO LEITE DE PEDRA, ATÉ QUANDO?


Usualmente, para governar, o candidato e sua equipe elaboram um projeto de desenvolvimento, apresentam para a sociedade na campanha e caso seja eleito trabalha para implementá-lo, se reeleger e fazer o sucessor.

No caso brasileiro não é diferente, no entanto, o candidato Lula foi eleito sem projeto e há muito por fazer para o país atingir o desenvolvimento sustentado. O superávit primário, receita menos despesas antes do pagamento dos juros da dívida pública, por exemplo, poderia fazer parte dessa iniciativa, como prioridade zero, além das reformas tributária, administrativa e política, somado aos investimentos de pelo menos 4,5% do PIB na infraestrutura.   

O crescimento do Brasil nas últimas décadas foi nulo, de 2014 a 2021, enquanto o PIB global subiu 20,5%, o brasileiro caiu 0,09%. Entre 2019 e 2022 a evolução média foi de 0,55% ao ano e a população cresceu 0,74% ao ano, o que significa queda do PIB per capta e aumento do nível de pobreza.

Pode-se fazer uma analogia da situação brasileira e um time de futebol ao substituir seu técnico em função de mal desempenho da equipe no campeonato. O novo “professor” troca vários jogadores, muda a forma de jogar e a situação piora na medida em que fica mais de dez rodadas sem vencer. Todavia, passada essa fase crítica, a equipe começa evoluir e a vencer seus jogos classificando-se para a fase final da competição.

Observe a piora do resultado antes da melhora e o apoio ao técnico pela diretoria, a qual segurou a pressão dos torcedores e dirigentes mais afoitos por resultados imediatos. A situação brasileira atual pode ser comparada a esse time hipotético, pois nova equipe assumiu e busca “vencer” a competição.

As mudanças da forma de jogar, por sua vez, não estão dando os resultados esperados, devido ao crescimento dos gastos improdutivos e falta de caixa para investimentos. Sem cortes, o superávit primário dificilmente será alcançado, nem a estabilidade e redução da dívida pública. A previsão do Ministério da Fazenda de aumento da receita para pagar as contas e investir não se está se materializando.

O aumento da previsão de déficit primário de 1,3% para 1,4% do PIB, ou R$ 145,4 bilhões em agosto, em contrapartida a estimativa do marco fiscal de déficit de 1% em 2023 e de zero em 2024, jogou um balde de água fria nas expectativas de redução acentuada das taxas de inflação e juros ainda em 2023.    

A “diretoria cede a pressão da torcida”, não toma medidas necessárias, sendo que trarão resultados no futuro e o tempo passa, as incertezas aumentam e os investimentos produtivos de cerca de 19% do PIB, são insuficientes para o país crescer a taxas 4% a 5% e reduzir o nível de pobreza atual.  

A gestão da Presidente Dilma foi assim, insegura e sem foco e o Presidente Lula segue o mesmo caminho e patina. Os Bancos centrais conseguem manter a inflação na meta com taxas neutras (de longo prazo) tanto altas quanto baixas, mas não têm o poder determinar o seu valor.

Quem determina é a política fiscal, e é aqui se inicia o problema, pois é um instrumento poderoso de ajuste da demanda, o que impede que os governos ignorem ao seu uso. A geração de déficits ou superávits fiscais pode amenizar as flutuações cíclicas da demanda e contribuir para a queda da inflação e juros.

A medida em que o crescimento da receita não ocorra como previsto no marco fiscal, caberá ao Ministério da Fazenda escolher entre mudar as metas fiscais para níveis mais realistas ou apelar para artifícios que garantam seu cumprimento. A primeira alternativa é mais compatível, porém ambas não contribuem para a queda veloz da taxa de juros.   

A temporada de Balanços do 2º. Trimestre da B3, apresentou redução média de 40% do lucro das empresas em relação ao ano anterior. Esse desempenho indica que a economia está fraca, o consumidor está comprando pouco e o varejo sofre demais através das vendas menores de eletroeletrônicos, moveis e materiais de construção.

Os empresários no Brasil tiram leite de pedra, de um lado a carga tributária e a taxa de juros são sufocantes, inviabilizam negócios, e de outro, o PIB caminha de lado, falta na administração pública performance mais eficiente. Caso a tendência não mude, antes do que se possa imaginar, a fonte de lucro das empresas vai secar e gerar mais desemprego e instabilidade social.


   (*) Prof. Dr. Jose Eduardo Amato Balian
Consultor empresarial
jbalian@uol.com.br


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